Sou
utilizador dos transportes públicos desde criança. Mesmo hoje em dia, com carro
próprio, são o meu meio de transporte habitual. Todos os dias saio de casa com
o meu filho com pouco mais de uma ano, vou deixá-lo à escola, vou para
trabalho, vou buscá-lo e regresso a casa, sempre transportado pela Carris. E
isso implica, demasiadas vezes, tempos de espera longos e autocarros cheios.
Mas sobretudo significa a lotaria dos motoristas da Carris.
Lotaria
porque nunca sabemos quem vamos apanhar. Podemos ter sorte e apanhar um bom
condutor, cuidadoso e atencioso com os passageiros (e sou testemunha que
existem muitos e bons profissionais na Carris). Podemos ter azar e calhar-nos
um motorista que gostava era de fazer corridas ilegais na ponte Vasco da Gama e
para quem cada paragem, cada curva e cada passagem de peões é uma novidade que
obriga a uma travagem a fundo. Motoristas para quem os passageiros são pouco
mais que um incómodo às suas conversas telefónicas e que vivem para exercer a
autoridade soberana que a Carris lhes concede sobre os seus utentes.
Dou
dois exemplos. No dia 13 de Fevereiro, fui buscar o meu filho à escola. Apanhei
o eléctrico para casa e tive que entrar por trás, uma vez que com um carrinho
de bebé e sem ajuda é impossível fazê-lo pela frente. O problema é que só se
consegue validar o passe na parte da frente do eléctrico, o que só conseguiria
fazer abandonando o meu filho na parte de trás. Expliquei isto à motorista que
não fez qualquer tentativa de resolver o problema. Limitou-se a ralhar comigo
por me recusar a deixar sozinho uma criança de um ano para cumprir esse sagrado
dever de validar o passe mensal! O ralhete, já de si foi desagradável, foi o
menos mau. Chegando à minha paragem a senhora recusou-se a abrir a porta de
trás do eléctrico e a deixar-me sair, tendo seguido o seu caminho, apesar dos
meus protestos. Depois de muitos gritos e berros, tudo isto com uma criança de
um ano dentro do seu carrinho, lá consegui que a motorista me permitisse sair do
eléctrico na paragem seguinte.
O segundo
exemplo conseguiu ser ainda mais caricato. Dia 8 de Março, dia internacional da
mulher, a minha mulher, grávida de oito meses e com uma grande barriga foi
buscar o nosso filho à escola. Entrou no autocarro, colocou o carrinho do bebé
de forma a causar o menor incómodo possível e sentou-se. Rapidamente foi
repreendida pelo motorista porque tinha que levar o carrinho da zona destinada
ao mesmo. A minha mulher ainda tentou explicar que não podia, porque dado o seu
estado tinha que ir sentada. De nada lhe valeu. Acabou por ter que se sentar no
chão, na zona dos carrinhos, e assim fez todo o percurso sem que o motorista se
tenha incomodado por uma única vez em tentar encontrar uma solução para o
problema.
E
tudo isto se passa sem que a Carris faça alguma coisa para fiscalizar a
qualidade dos seus motoristas. Da primeira situação ainda fiz queixa à Carris e
ao provedor dos utentes dos transportes públicos de Lisboa. Até hoje, um mês
depois, ainda não recebi resposta alguma. Da segunda, ainda nem fiz queixa tendo
em conta a sua inutilidade.
E
assim, enquanto temos campanhas publicitárias sobre a utilidade dos transportes
públicos, enquanto compramos autocarros o mais amigos do ambiente possível,
enquanto instalamos os mais avançados sistemas de controlo de bilhetes, temos
uma empresa pública de transportes onde os bebés não podem entrar no eléctrico
e as grávidas vão sentadas no chão.
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