1. A vitória de Trump é clara e em todas as
frentes. Tem o maior número de grandes eleitores, ganhou o voto popular, ganhou
na maioria dos Estados. Os Republicanos têm maioria no Senado e na Câmara dos
Representantes. Não há dúvida nenhuma que os americanos querem os Republicanos
de volta ao poder.
2. Nas últimas semanas muito se falou da
hipotética recusa de Trump em aceitar uma derrota. Sobre este assunto tudo se
disse. É de estranhar pois o silêncio após a recusa de Hillary em publicamente
assumir a derrota. O que vem aliás comprovar que as diferenças entre um e outro
não são assim tão grandes, a diferença parece ser o tratamento que a imprensa concede a cada um.
Os mesmos jornalista e comentadores que acusaram
Trump de não respeitar a democracia procuram agora toda a espécie de desculpas
para justificar a atitude de Clinton.
Num momento de grande divisão teria sido um
importante sinal de unidade nacional e respeito democrático que Hillary
reconhecesse publicamente a derrota.
3. Esta eleições demonstram o divórcio cada vez
maior entre as elites e a maioria popular.
Trump é eleito contra a vontade dos media, dos opinion makers, das estrelas de
Hollywood, dos apresentadores de talk
shows, até contra a vontade da liderança do seu próprio partido.
É cada vez mais evidente que a população (e não
apenas na América, veja-se o Brexit, o sucesso da Frente Nacional ou do Syriza)
desconfia hoje do sistema. Aliás o maior trunfo de Trump sempre foi o seu
passado sem experiência política e o discurso anti-politicamente correcto.
Penso que é hora de se começar a pensar o que está
de errado num sistema onde as elites e o povo vivem de costas voltadas.
4. O discurso de vitória de Trump foi o contrário
da sua campanha: pacífico, moderado, amistoso.
Começou por elogiar Clinton. Apelou a união de
todos os americanos. Disse querer boas relações com todos os países. Falou, em
tom grandioso como lhe é habitual, do sonho americano, do potencial da América
e da reconstrução nacional.
É de assinalar a operação de charme que Trump
lançou aos seus aliados Republicanos durante o discurso. Ao contrário do que é
habitual neste género de discursos, Trump foi muito informal, chamando vários
da seus apoiantes ao placo, sublinhando a sua importância na vitória, usando
quase sempre a palavra "nós".
Este Trump é bastante diferente, para melhor, do
Trump candidato. Agora é esperar para ver se o Presidente Trump será o conciliador
do discurso de vitória ou o populista da campanha.
5. A campanha foi das mais feias da história
americana. Ambos os lados construíram a sua campanha com base no insulto ao seu
adversário. Se isto era expectável da parte do populista Trump, a verdade é que
Clinton em nada contribuiu para subir o nível da campanha.
6. Em muitas discussões que tive durante a
campanha americana ouvi que o aborto era um assunto que não estava em discussão
nestas eleições. A verdade é que com a vitória Republicana vai ser possível
(logo veremos o que acontece) acabar com o financiamento federal ao Planned
Parethood. A nomeação de juizes pró-vida para o Supremo também irá possibilitar
reabrir a discussão sobre o aborto livre.
7. A América está hoje profundamente dividida. A
vitória de Trump, o mesmo aconteceria com a vitória de Clinton, não vem ajudar
a essa divisão. O presidente-eleito terá, entre outros grandes desafios, a
missão de pacificar internamente o país.
O discurso de ontem demonstra essa vontade. Porém, as palavras valem pouco. Também Obama fez sempre o discurso da
unidade do país, enquanto as suas acções ajudavam a cavar ainda mais o fosso
entre americanos.
Esperemos que Trump nos surpreenda e que de facto
passe das palavras à acção. Infelizmente, se assim não for, os Estados Unidos
enfrentarão tempos muito difíceis.
8. Como já começa sendo hábitos, as sondagens e
previsões demonstraram estar enganadas. Ao contrário de todas as previsões, não
só Trump ganhou como os Republicanos mantiveram o controlo sobre o Congresso.
É evidente que existe hoje um problema com as
empresas de sondagens. A população eleitoral mudou e é evidente que estas
empresas ainda não conseguiram acompanhar esta mudança.
Mas também é importante começar a pensar até que
ponto é que hoje as sondagens se transformar em arma de campanha. Gostemos ou
não, estas influenciam os resultados. E a verdade é que hoje em dia parecem mais obedecer aos desejos das empresas que as realizam do que à
realidade.
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