Os
gregos e os romanos acreditavam que o estreito de Medina, que separa a
península itálica da Sicília, era habitado por dois monstros, um de cada lado
do estreito: Cila e Caríbdis. Isto queria dizer que, ao passar o estreito, os navegantes estavam entre dois
monstros igualmente terríveis.
É
esta imagem que me vem à mente quando penso nas eleições americanas. Daqui a
menos de vinte dias os americanos serão chamados a escolher entre Hillary
Clinton e Donald Trump, dois dos piores candidatos da história da república
americana.
De
Trump já todo o mal foi dito. E, mesmo descontado algum exagero aqui e ali, a
maior parte do que se diz sobre "The Donald" é verdade. Não tem
qualquer experiência política, é totalmente inconstante nas sua ideias, é
populista, arrogante e ordinário, tem negócios pouco claros, não tem nenhuma
ideia concreta. Toda a sua campanha se baseia em ser um anti-obama, procurando
assim captar os votos de todos aqueles descontentes com a presidência dos
últimos oito anos. Em toda a campanha Donald Trump tem demonstrado ser
absolutamente amoral e que está disposto a dizer o que for preciso para ser
eleito. As ideias de Trump sobre a imigração e sobre o islão demonstram um
total desrespeito pela vida humana e pelas liberdades individuais.
O
problema é que do lado de lá está Hillary Clinton. A mulher do antigo presidente Bill
Clinton foi Secretária de Estado no primeiro mandato de Obama. É por isso
co-responsável pela estratégia política que levou à conquista de grande parte
do Iraque e da Síria pelo ISIS. É também co-responsável pelo política
anti-Rússia (que continua a defender) que tem tido como grande resultado o
continuo apoio dos Estados Unidos aos rebeldes sírios (nos quais estão
incluindo o ramo sírio da Al-Qaeda e a Irmandade Muçulmana) e o arrastar da
guerra civil nesse país. Também como Secretária de Estado, Hillary este envolta
num escândalo por ter recebido e enviado mails com material confidencial do
seu servidor privado. Mails esses que apagou por "engano", gorando
assim a investigação que lhe foi feita pelo FBI.
São
muitos os rumores das ligações do casal Clinton às grande empresas. E a verdade
é que a fortuna do casal disparou depois de Bill ter saído da Casa Branca. Se em 2001 o casal tinha um passivo de 8
milhões de dólares, calcula-se que neste momento tenham uma fortuna de 111
milhões de dólares. Evidentemente que a riqueza não é crime, mas para quem
tanto ataca a maneira de fazer negócios de Trump, Hillary parece também ter
telhados de vidro neste campo.
Moralmente
Hillary não é melhor que Trump. É evidente que o candidato Republicano é mais
chocante, quanto mais não seja porque é mais grosseiro do que Hillary. Mas não
é apenas por causa disso.
Trump
sobressai mais porque as barbaridades que diz chocam (e na maior parte das
vezes com toda a razão) a opinião pública politicamente correcta. Infelizmente,
os mesmo que se indignam (e bem) por Trump fazer graças sobre assediar
mulheres, não se chocam quando Hillary defende o aborto livre até aos fim da
gravidez. Os mesmo que se revoltam quando Trump diz que quer expulsar todos os
muçulmanos dos Estado Unidos, ficam em silêncio quando Hillary afirma que as
religiões vão ter que mudar para aceitar os "direitos reprodutivos"
(entenda-se, aborto livre). A questão não é que Hillary não seja tão imoral
como Trump, mas a sua imoralidade está de acordo com a doutrina politicamente
correcta dos media que fazem a opinião pública.
Por
fim, Hillary tem uma vantagem sobre o seu adversário: está mais bem preparada
para o cargo do que ele. Não há dúvida que Clinton é mais capaz para
desempenhar o papel de presidente que Trump. Contudo, entre um presidente
incompetente e uma presidente competente mas que defende políticas erradas, não
me parece que um seja melhor que outro.
Resumidamente:
Hillary Clinton e Donald Trump são ambos maus candidatos. Dificilmente alguém,
especialmente um católico, se pode sentir confortável a votar num ou noutro. Se
Trump neste capítulo até pode aparentar alguma vantagem (tem dito que é
pro-life e a favor da família) isso deve-se mais à sua falta de ideais (o que
lhe permite defender o que quer seja preciso defender para ganhar) do que a uma
qualquer moralidade.
O
melhor resultado para a América no dia 8 de Novembro seria que ambos perdessem.
Contudo, um deles vai ganhar. Para mim tem sido difícil ter uma preferência e
agradeço a Deus não ter que votar nas eleições americanas.
Contudo,
reconheço que o menos mau dos resultados talvez seja a vitória de Trump. Como já acima expliquei, ambos os candidatos
são igualmente maus. O que os separa realmente é a "plataforma" que
os apoia. Ora, Trump é apoiado pelos Republicanos. Mas este apoio é forçado. Só
o apoiam (e mesmo assim nem todos) porque ele é o candidato do partido. Quer
isto dizer que Donald nunca contará com o apoio suficiente no Congresso para
governar à vontade. Se Trump vencer, terá que negociar todas as nomeações (quer
para o governo, quer para os tribunais), terá que negociar todos os gastos,
todos os tratados.
Isto
não o impedirá de fazer muitos disparates, mas não lhe dará muita margem de
manobra. Donald Trump, se ganhar, ficará irremediavelmente "atado" ao
Partido Republicano para conseguir governar.
Já
Hillary Clinton terá espaço de manobra suficiente para impor a sua vontade ao
Partido Democrata que se encontra submetido à sua influência (como os últimos
escândalos da Wikileaks vieram comprovar). Terá provavelmente poder para fazer
cumprir os seu programa, o que inclui
continuar a política pró-aborto e pró-LGBT de Obama, assim como a sua política externa que parece ter como único objectivo enfraquecer a Rússia, mesmo que para isso tenha que apoiar terroristas.
Se
entre Trump e Clinton não vejo grande diferenças, entre Democratas e
Republicanos sim. E é por isso que prefiro a vitória de Donald sobre Hilary.
Ganhe
quem ganhar no dia 8 de Novembro a Democracia vai perder. Porque perde sempre
quando a escolha é entre dois males menores. Resta-nos por isso esperar pelo mal menor. Mesmo sabendo que será sempre uma grande mal.