A noite de 4 de Outubro assistiu
ao nascimento de um mito. Este começou a ser criado pelo PC e pelo Bloco, mas
como habitualmente, qualquer que seja o resultado, estes dois partidos “ganham”
as eleições, ninguém ligou muito.
Aliás, o discurso de António
Costa nessa noite, onde reconhecia a derrota e afirmava que não iria inviabilizar
o governo dos partidos vencedores, parecia encerrar esse mito. Contudo, mesmo com a admissão da derrota , percebia-se que também nele estava lançada a
semente desse mito, quando afirmava que algo tinha mudado com as eleições.
Lenta, mas seguramente, o mito
foi ganhando força até se transformar num suposto “facto”: a esquerda tinha
ganho as eleições. Sem sabermos bem como, após uma noite onde tinha ficado
claro para todos, excepto para a extrema-esquerda, quem ia governar o país, começou-se a
ouvir várias vozes que afirmavam que afinal a coligação “Portugal à Frente” não
tinha ganho as eleições, mas que o vencedor seria essa entidade chamada “esquerda”,
constituída por três partidos que todos juntos tinham mais deputados que a PaF.
E assim, aparentemente a vitória
da esquerda deixou de ser um mito e começou a ser, para muitos, um “facto”. O
grande drama é que este “facto” é uma mentira. Nada mais nada menos do que
isso: uma mentira.
Eu bem sei que os partidos de
esquerda tiveram mais votos do que o PaF, ainda não estou totalmente desligado
da realidade, ou para usar um novo termo técnico, ainda não cheguei ao grau “Costa”
da ilusão. O facto é que a esquerda não ganhou as eleições, porque a esquerda
não concorreu às eleições.
Entre os partidos e coligações
que foram a votos no dia 4 de Outubro e conseguiram eleger deputados, três são de
esquerda: PS 86 deputados, Bloco 19 deputados e a CDU (PC + PEV) 17 deputados, num total de 122 deputados.
Contudo, embora todos estas candidaturas sejam de
esquerda, são de esquerdas muito diferentes, como se pode verificar pelo programa
eleitoral que apresentaram.
O Partido Socialista é
europeísta convicto, a favor do Tratado Orçamental, da União Monetária e de uma
maior integração europeia. Para além disso o PS é a favor da OTAN, não tem
nenhum plano para a nacionalização da banca e é a favor do mercado livre em
geral.
Já o Bloco de Esquerda é europeísta,
mas não a favor da actual União Europeia. Defende uma maior integração
europeia, porque defende uma sociedade sem fronteiras. Mas é contra o Tratado
Orçamental, contra a actual União Monetária e defende a reestruturação da dívida
como essencial para a permanência de Portugal no Euro. Mais ainda é contra a
OTAN, defende a nacionalização da banca a longo prazo, assim como de vários
outros sectores da economia.
A CDU, que é como quem diz o
Partido Comunista, é contra a Europa, contra o pagamento da divida, contra a
moeda única e defende a saída de Portugal do Euro. É contra a OTAN, a favor da
nacionalização da banca e contra o mercado livre.
Ou seja, os únicos pontos em
comum entre estas forças políticas são as questões fracturantes e serem contra
o actual governo. Como aliás, foi várias vezes recordado durante a campanha
eleitoral. É preciso lembrar que o Partido Socialista acusou sempre o Bloco e a
CDU de serem irresponsáveis e partidos de protesto. O Bloco e a CDU acusaram
sempre o PS de ser um partido de direita, pouco diferente do PaF.
A prova mais cabal que falamos
de três propostas muito diferentes para o país é o facto de 19 dias depois das
eleições estes três partidos ainda não terem conseguido um acordo de governo
para o país.
Vir afirmar que o facto de o PS,
o Bloco e a CDU terem tido mais votos que o PaF é uma vitória da esquerda é por
isso mentira. Querer usar essa mentira para formar um governo é simplesmente
desonestidade e falta de democracia.
Têm mais em comum o
PaF e o PS, do que o PS e o resto da esquerda, como ontem lembrou o Presidente
da República. O chamado Bloco Central é europeísta, a favor da OTAN e
a favor da liberdade do mercado. As divergências entre o actual governo e o PS
não são estruturais mas apenas de método.
Teve por isso muito bem o
Presidente da República ao recusar o mito da vitória da esquerda. Não era
compreensível, olhando para os resultados eleitorais, que o Presidente fizesse
outra coisa que não respeitar o voto dos eleitores nas urnas.
Indigitar António Costa como
primeiro-ministro, com base num suposto acordo que
ninguém viu, deixando assim o país refém da extrema-esquerda, era não só uma irresponsabilidade,
mas também uma desonestidade, dando na secretaria uma vitória ao PS que o povo
se recusou a dar nas urnas, a à extrema-esquerda um poder que os eleitores nunca lhe deram.
O Presidente cumpriu o seu
dever. Para bem do pais, gostaria de ver os deputados ignorar por momentos a
sua sobrevivência política e cumprir também eles o seu dever para com País. Nem são precisos muitos: só oito deputados da "esquerda" com consciência.
Caro Zé Maria, bravo!
ResponderEliminarPenso só que onde diz que BE e CDU defendem a "privatização" da banca, queria dizer que defendem a "nacionalização".
Os meus cumprimentos.
Caro Zé Maria, bravo!
ResponderEliminarPenso só que onde diz que BE e CDU defendem a "privatização" da banca, queria dizer que defendem a "nacionalização".
Os meus cumprimentos.
Caro n, obviamente:)
ResponderEliminarObrigado pela atenção.