quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Winston Churchill: um Político.



Fez no passado fim-de-semana cinquenta anos que morreu uma das maiores figuras do século passado, o Primeiro-Ministro inglês Winston Spencer Churchill.

Sobre ele há muita coisa a dizer-se. Teve um longa vida, recheada de acontecimentos. Participou (como reporter, como soldado e como membro do governo) nas maiores guerras do seu tempo. Foi testemunha e actor de grandes eventos da história inglesa e do mundo. E só estes factos seriam suficientes para nos lembrarmos de Churchill.

Mas para além disso a sua personalidade ajuda a não nos esquecermos dele. O seu mau feitio, o seu egocentrismo, a sua coragem, a sua temeridade e, sobretudo, a sua capacidade de ter sempre uma resposta na ponta da língua, qualquer que fosse a situação, tornam Churchill numa personagem quase mitológica mas demasiado boa para ser inventada.

Por isso existem bibliotecas inteiras escritas sobre ele. Livros sobre a sua vida, sobre o seu papel na história, sobre os seus hábitos ou então só com as suas citações. Ajuda o facto de alguns destes livros terem sido escritos por ele. Porque Churchill nunca se fez rogado a escrever um livro onde justificasse os seus erros ou enaltecesse os seus feitos (terão dito sobre o livro que ele escreveu sobre a Iª Grande Guerra "Winston escreveu um livro sobre ele. Chamou-lhe A Crise Mundial").

Mas de tudo isto havia apenas uma coisa sobre Churchill que eu gostaria de dizer: é que ele foi acima de tudo um político. Bem sei que nos dias de hoje dizer que alguém é um político costuma soar a insulto, mas a verdade é que ele foi um politico profissional. Claro que ele também foi soldado, reporter, escritor e até pintor (para não falar do seu hobby de colocar tijolos!). Mas foi sobretudo um político.

Servir o seu país na política foi o grande trabalho de Churchill. Foi deputado, ministro, primeiro-ministro, líder da oposição. E em todos estes lugares defendeu sempre com todas as suas capacidades aquilo que acreditava ser o melhor para a Inglaterra. Mesmo quando isso lhe custou o poder, Winston Churchill nunca hesitou em bradar em voz alta aquilo que achava ser o mais certo para o seu país. E foi assim que durante anos atacou o bolchevismo, foi assim que durante anos preveniu contra Hitler e foi assim que manteve a Inglaterra, mesmo quando já toda a Europa se tinha submetido, como o último bastião contra o nazismo.

E por isso ele é a prova da necessidade que temos de verdadeiros políticos. Não de criaturas dos partidos, debitando os slogans que as empresas de comunicação ditam. Mas de homens dispostos a defender a sua nação, a defender aquilo em que acreditam, dispostos a discutir e a debater abertamente, a apontar o caminho, a liderar.

Devemos recordar Winston Churchill por muitas outras coisas. Mas nunca nos esqueçamos desta: que as grandes coisas que ele alcançou, alcançou-as como político. Por isso a próxima vez que alguém disser que na política é preciso técnicos, empresários, académicos, lembremo-nos de Churchill, o político profissional que resistiu a Hitler.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie.


Hoje três homens entraram na redacção do jornal satirico Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas. Foi um acto bárbaro, sem qualquer justificação possível.

Num Estado civilizado tem que haver liberdade até para insultar. Ninguém deve ser morto por exprimir a sua opinião, qualquer que ela seja. Se alguém fica ofendido pelo que o outro escreve ou desenha tem uma solução fácil: não lê, não olha, não compra. Se mesmo assim se sentir ofendida tem outras soluções: promove um boicote, uma campanha ou mesmo recorre aos tribunais.

Por isso nada justifica aquilo que hoje aconteceu em Paris. Mais grave ainda porque vem no seguimento de vários atentados que têm vindo a ser feitos em França neste último mês. A grande diferença é que aquilo que aconteceu hoje não foi claramente fruto de um só homem, mas sim um operação planeada com alvos definidos.

Dito isto, não posso dizer, como na campanha que começa a ganhar forma no facebook, que "je suis Charlie".

O jornal em questão mais do que usar a liberdade de expressão, abusava  e travestia a liberdade que o Estado lhe garante.

O Charlie Hebdo pegou em situações graves e explosivas e fez com elas humor rasca, baixo e demagógico. Não hesitou em gozar com milhões de pessoas que nada mais fizeram do que viver a sua fé em paz e sossego.

Por isso é verdade que nada justifica os barbáros assassinios que hoje foram feitos. Nenhum daqueles que hoje morreu merecia isto. Não somos obrigados a viver com medo de sermos mortos pelas ordinarices que publicamos ou dizemos. Mas os colunistas do Charlie Hebdo não são mártires da liberdade de expressão. São vítimas injustas de terrorismo. Um terrorismo que urge parar. Mas não mártires. Hoje houve apenas um mártir da liberdade de expressão: o polícia que foi morto a tentar garantir que em França continua a existir liberdade, até para insultar!