segunda-feira, 31 de julho de 2023

Um guia para fake news sobre a Jornada Mundial da Juventude

 



Com o aproximar das Jornadas, o número de disparates sobre as mesmas nas redes sociais (e mesmo na comunicação social) começa a disparar. Por isso, para poupar trabalho, preparei uma lista de, para usar linguagem corrente, fake news que por aí correm. Sintam-se livres de a usarem da forma que vos aprouver.

 

1. Porque é que as Jornadas são em Lisboa que já está cheia? Deviam fazer em Fátima ou em Beja.

Este é dos disparates mais repetidos desde que foi anunciado que a JMJ seria em Lisboa. A primeira, e óbvia razão, pela qual as JMJ são em Lisboa é porque a escolha é feita pela Santa Sé, de entre as dioceses que se oferecem para acolher o evento. Por isso, a JMJ não é em Fátima nem em Beja, antes de mais, porque estas não mostraram interesse em recebê-la.

A maior parte das pessoas não compreende que a Igreja é uma instituição descentralizada. Os bispos de cada diocese só respondem ao Papa.  Por isso não foi a Igreja portuguesa que decidiu onde seria a JMJ, foi a Igreja de Lisboa que se ofereceu para a receber.

Mas há uma segunda razão, também bastante evidente: nem Fátima, nem Beja, nem provavelmente outra cidade do país, tem capacidade para acolher este evento. As Jornadas duram uma semana, com 4 eventos com centenas de milhares de pessoas (o último provavelmente com mais de um milhão), 300 catequeses por dia, e centenas de concentos, conferências, sessões de cinema, teatros, competições desportivas, etc. Razão pela qual a JMJ não acontece apenas em Lisboa, mas envolve também os concelhos do distrito, assim como concelhos dos distritos de Santarém e Setúbal.

 

2. O Estado vai gastar imensos milhões e a Igreja não vai gastar nada!

Está estimado que a JMJ custe no total 160M de euros. Mais de metade desse valor é assegurado pela Igreja.

O Estado Central vai entrar com 30M. Desse valor, 8,2M serão para remover os contentores do terminal. Uma obra que já estava prevista (tal como aliás a reconversão do Parque Tejo, de que falarei depois). Para além disso, o Estado garante as infraestruturas das comunicações, instalações sanitárias, segurança e a promoção do evento no estrangeiro. Ou seja, os gastos do Estado dividem-se entre aqueles que são os seus deveres habituais (segurança, saúde, etc) e a promoção da JMJ no Estrangeiro, ou seja, promover Portugal através do Evento.

A Câmara de Lisboa vai gastar 35M, dos quais 21,5 são para a requalificação do Parque Tejo. Esta obra que fica para a cidade é “atribuída” às JMJ, mas de facto é a obra que completa a reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa. Aliás, também dos 10M que a Câmara de Loures vais gastar, mais de 5M são para este mesmo fim. Ou seja, dos 80M de dinheiros públicos, mais de 35M são de facto para requalificação urbana.

Para além deste gasto, parte dos gastos das câmaras prende-se com a higiene urbana, transporte e organização do trânsito. Ou seja, é verdade que o Estado cobre quase metade do custo da JMJ, mas grande parte desse investimento é em requalificação urbana e nas funções habituais do poder público quando recebe um grande evento.

3. O Estado é laico, não devia dar nem um tostão para um evento religioso

O Estado não tem religião, mas não vive desligado da sociedade. O Estado habitualmente apoia de várias formas eventos de relevância social e cultural. Aliás, ainda há pouco tempo houve grande fúria social porque a Câmara do Porto não apoiava o suficiente a marcha do alfabeto.

A JMJ é um evento que irá atrair centenas de milhares de todo o mundo, será coberto por cinco mil jornalistas, e será seguido por 500 milhões de pessoas em todo o mundo. Para além do empenho de milhares de católicos em Portugal. Que o Poder Público apoie o evento não é normal, como é bastante razoável, se pensarmos na publicidade que a JMJ dará a Portugal.

 

4. Mas era preciso gastar tanto? Jesus falou no alto de uma montanha!

Há uma passagem da Escritura de que sempre gostei especialmente. Uma mulher aproxima-se de Jesus e derrama sobre os seus pés um perfume caríssimo. Logo Judas se revolta, dizendo que podia ter dado aos pobres. Ao que Nosso Senhor responde “pobres sempre os tereis”. Mas logo de seguida o Evangelista acrescenta “Judas não dizia isto porque se preocupava com os pobres, mas porque era ladrão”. Sempre que alguém começa com a conversa sobre os gastos da Igreja, lembro-me deste comentário de São João.

Basta fazer contas de merceeiro para perceber que cada peregrino custa cerca de 13€ (160M – 30M de infraestruturas para o país /1 000 000 de peregrinos). Ou seja, a organização da JMJ consegue organizar 4 eventos gigantescos, 1200 catequeses, centenas de eventos, dormida e comida para 300 000 pessoas, segurança, transportes, e tudo o mais por 13€. Pensem o que se faz com 13€ e vejam lá se é caro…

 

5. Mas cada peregrino paga mais de duzentos euros, a Igreja vai fazer uma fortuna!

Mais um mito que nunca ninguém vai confirmar. Para os peregrinos que se inscreveram na JMJ (para ter seguro, o kit peregrino, acesso aos transportes, alimentação, estadia, etc.) havia um preço que variava conforme o pacote escolhido (a escolha ia desde a simples inscrição só com kit, transportes e seguro para o fim-de-semana) até ao pacote completo (com tudo incluído durante a semana).

Por isso, de todos os peregrinos, só uma pequena fatia paga os tais duzentos euros. E esses recebem em troca uma estadia com tudo pago em Lisboa durante uma semana.

Como disse acima, a Igreja entra com mais de 80M de euros na organização da JMJ. Parte dessa receita vem destas inscrições. Mas como qualquer pessoa pode calcular, duzentos euros para dormida, transportes e comida durante uma semana é bastante abaixo do preço real.

Contudo, a Fundação JMJ já anunciou para que instituições irão os eventuais lucros da JMJ. Relembro que as contas da Fundação são auditadas pela PWC, umas das maiores consultoras do mundo…

 

6. A Expo e o Euro foram maiores!

A primeira coisa é que a JMJ não é um concurso para ver qual o maior evento do mundo. Somos os que somos pela Graça de Deus e que a Sua Graça em Nós não seja vã.

Dito isto, a Expo 98 (da qual todos nos orgulhamos) teve uma média de 63 mil visitantes por dia. Ou seja, muito menos pessoas que em qualquer dia das jornadas, provavelmente quinze vezes menos pessoas que estarão na Vigília e na Missa de Encerramento das Jornadas. Para além disso, a Expo estava toda concentrada num só sítio.

Quanto ao Euro de facto há um aspecto em que vence a JMJ em toda a linha: o Estado gastou quase mil milhões de euros no evento, depois disso há câmaras que continuam a suportar custos elevadíssimos com os estádios passados quase 20 anos (como Braga e Coimbra), tudo para um retorno de 440 milhões de euros (para relembrar o Estado vai gastar nos total 80M na JMJ e há um retorno esperado de mais de 400M).

Mas se o Euro supera largamente as Jornadas em custos, em espectadores não. O evento durou quase um mês, em dez cidades do país, e atraiu 1 250 000 pessoas ao todo.  A JMJ apenas numa semana irá trazer só a Lisboa entre 1 a 1.5 milhões de pessoas.

 

7. Disseram que vinham milhões de peregrinos e afinal só vêm 300 mil

Já vi esta várias vezes, sempre com ar convicto. O primeiro ponto é que nunca ninguém falou em milhões, mas sempre entre 1 a 1,5 milhões de peregrinos. Previsão que aliás se mantém.

Trezentos mil é o número de peregrinos inscritos. Mas esses são apenas uma parte dos que vêm. Este número não difere muito do número de inscritos de outras JMJ onde estiveram mais de um milhão de peregrinos. Por isso sim, contem com muita, muita gente em Lisboa.

 

8. Os confessionários foram construídos por trabalho escravo

Esta mentira já deu direito a cartazes na rua e tudo. Mas é uma treta. É verdade que houve 120 confessionários que foram feitos por presidiários. Mas claro que o trabalho foi voluntário e pago. Aliás, vale a pena ler este artigo no site da JMJ onde os presidiários falam sobre este trabalho e perceber como esses homens são muito mais livres do que as pessoas que espalham mentiras sobre o seu trabalho.

 

9. Estão a expulsar os sem-abrigo por causa da JMJ

Esta talvez seja a mentira mais abjecta destas JMJ. Tudo começou com um vídeo editado, onde se viam uma equipa de limpeza da Câmara, assim como equipas de intervenção social da Junta de Freguesia de Arroios e da Câmara, numa acção de limpeza da Almirante de Reis, enquanto vários sem abrigo retiravam as suas tendas.

Logo se espalhou o boato de que aquelas pessoas estavam a ser expulsas. Boato alimentado pela comunicação social e por vários comentadores de esquerda.

O alvo não era a JMJ em si, mas sim Carlos Moedas. Mas, como era facilmente verificável, era mentira. Tratava-se apenas de uma limpeza da rua, o que é feito habitualmente, que é acompanhada pelas equipas sociais para tentar apoiar os sem abrigo que ali vivem. Finda a limpeza as tendas voltaram, e infelizmente ainda lá estão.

Não deixa de ser impressionante ver tanta gente a defender que pessoas a dormir em tendas no meio a cidade é uma coisa. Percebe-se de facto o grau de preocupação com aqueles sem abrigo…

 

10. Porquê em Agosto? E ainda por cima fizeram lá o parque sem árvores!

A JMJ são sempre em Agosto por um razão simples, e que até me parece fácil de perceber: é quando os jovens estão de férias! Penso que não é preciso ser especialmente informado para compreender que um evento dedicado a jovens de todo o mundo durante uma semana, tem que ser fora do período de aulas….

Sobre as árvores, ou a falta delas, também não consigo perceber a dificuldade: um milhão de jovens a tentar ver o Papa, de facto tem de ser num descampado. Mas para aqueles que vivem preocupados com o sol a bater na moleirinha dos jovens, não se preocupem, todos sabem que é assim. O banho com as mangueiras dos carros dos bombeiros é um clássico da JMJ pelo menos desde Roma 2000, e ninguém vem ao engano.


Haverá mais tretas e boatos sobre a JMJ por aí. Estes foram os que fui ouvindo mais. Espero que esta lista ajude a poupar trabalho e assim possam aproveitar este enorme espctáculo de Graça que são a JMJ. Para mim, que desde sexta-feira comecei a trabalhar na JMJ, tem sido comovente ver tantos jovens tão felizes e esperançosos. E ainda nem começou. Por isso, o melhor remédio perante as fake news contra a JMJ é mesmo ligar pouco, e aproveitar a beleza destes dias!


domingo, 9 de julho de 2023

JMJ: uma oportunidade de conversão

 


A Jornada Mundial da Juventude é um acontecimento extraordinário. Participei em duas (em Colónia e em Madrid) e não conheço nada que se pareça. São ruas e ruas cheias de jovens em festa, de todas as partes do mundo. Miúdos de todo o mundo, com uma enorme diversidade de gostos, de dons, de carismas. E essa diversidade expressa-se nas catequeses, nas exposições, nos concertos, nos milhares de eventos que acontecem durante a semana que culmina com a Vigília e a Missa de Encerramento com o Papa.

Toda esta multidão de jovens na rua são um espetáculo extraordinário. E tudo isto se passa numa serenidade, numa alegria, numa paz que não é habitual numa multidão tão grande.

Mas para que se faz a JMJ? É que organizar um evento assim dá uma enorme trabalheira a milhares de pessoas. Já não falo do dinheiro gasto, mas dos milhares de pessoas que dão o seu tempo pela JMJ. Tudo isto para quê?

A resposta é dada por São João Paulo II logo na primeira JMJ - “A Jornada Mundial da Juventude significa precisamente isto: sair ao encontro de Deus, que entrou na história do Homem através do Mistério Pascal de Jesus Cristo. E Ele quer encontrar-vos primeiro a vocês, jovens. E a cada um quer dizer: segue-me!”

A JMJ não é apenas um belo encontro de jovens, um mega-acampamento de Verão, um festival para meninos bem-comportados. Nem sequer um encontro de jovens bem-intencionados que quer mudar o mundo. Isso, a acontecer, é tudo consequência. A JMJ, como tudo aquilo que a Igreja faz, existe para testemunhar Cristo presente.

Por isso, a grande beleza da JMJ é a oportunidade de conversão que oferece a cada um. Ou seja, a oportunidade de responder ao convite de Cristo: segue-Me!

Tudo o resto é manifestação da conversão a Jesus. Toda a beleza, toda a alegria, toda a felicidade que se vive na JMJ são manifestação do encontro de Cristo. E existem para que cada um que peregrina até à JMJ tenha a oportunidade de converter o seu coração Àquele que é fonte de toda a Beleza, de toda a Alegria e da Felicidade Eterna.

Eu sei que atualmente as pessoas não gostam de falar de conversão. Vivemos no tempo do relativismo, onde dizemos que tudo é igual. Mas eu não posso acreditar que Jesus é Deus feito carne e depois não desejar que os outros o conheçam. Se eu encontrei Aquele que responde a todas as exigências do meu coração, como posso querer que os outros não o conheçam? Para um cristão não desejar a conversão dos outros só pode ser uma de duas coisas: ou falta de caridade ou falta de fé! Ou não desejo o bem do outro, ou não acredito que Jesus é quem diz que É.

A JMJ, em toda a sua grandeza, é assim uma oportunidade única de obedecer ao mandato evangélico que Jesus nos deixou “ide por tudo o mundo e anunciai o Evangelho”. É evidente que daqui até à JMJ, e durante a própria Jornada, haverá coisas que nos incomodam, com as quais não concordamos. Iremos ouvir os maiores disparates, e uma tentativa de reduzir este ímpeto de São João Paulo II a uma experiência mundana, tornando a Igreja numa ONG. Mas não desperdicemos esta oportunidade. Esta oportunidade ante de mais para nós, que vivemos em Portugal. Oportunidade de conversão do nosso coração a Jesus, que se manifesta neste povo imenso que vai encher Lisboa. Mas também a oportunidade de anunciar Jesus a centenas de milhares de jovens.

A Igreja é uma realidade divina, que vive numa realidade humana. Uma realidade humana cheia de limites e imperfeições. Não nos deixemos por isso chocar com os limites alheios, venham de onde vierem, e coloquemos o olhar em Cristo.

Como nos ensinou São João Paulo II, não tenhamos medo de escancarar as portas a Cristo.