quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O último bastião


A recusa do PSD em coligar-se com o CDS é uma boa notícia. Evidentemente que dificulta a vida ao CDS, que nas actuais circunstâncias terá de trabalhar muito para assegurar um grupo parlamentar. Mas o actual PSD não é o PSD de Passos Coelho, nem sequer o de Durão Barroso e menos ainda o de Sá Carneiro. O actual PSD em pouco ou nada se distingue do actual PS. Nem nas políticas que defende, nem nos métodos que usa.

Basta tomar como exemplo a questão da eutanásia, onde Rio manobrou o que pode para conseguir a sua aprovação. De facto, Rio fez bastante mais pela legalização da morte a pedido que António Costa. E de resto, nada separa, neste tema, Mónica Quintela de Isabel Moreira, ou André Coelho Lima de Bacelar de Vasconcelos. Se foi assim num grupo parlamentar escolhido pela anterior direcção, num escolhido por Rio será seguramente pior.

E quanto aos métodos, também pouco os parece distinguir. Rio apregoa banhos de ética mas depois garante o poder recorrendo aos caciques mais poderosos do seu partido como os Gonçalves ou Malheiro. Até ressuscitou António Preto! Tal como a Costa, pouco ou nada lhe preocupam as suspeitas que rodeiam os seus apoiantes, desde que estes lhe sejam úteis.

A grande diferença entre Rio e Costa não é doutrinal ou de honestidade, é mesmo de competência. E nesse campo quem fica a perder é o líder social-democrata.

Seria por isso muito complicado ao CDS justificar a coligação com este PSD. Como poderia um partido que esteve na linha da frente na luta contra a eutanásia apelar ao voto em Rio? Eu pessoalmente não o faria.

Por isso, por muito difícil que seja, ir a votos sozinho é bom e necessário. Porque o CDS tem neste momento uma posição única na política portuguesa: é o último bastião na defesa de um Estado baseado na dignidade da pessoa humana.

Temos à esquerda um conjunto de partidos para quem o estado é a origem de todos os direitos, incluindo do direito à Vida e à família. Á direita temos dois partidos: um que substitui Estado por mercado achando que assim resolve todos os problemas, outro para quem a dignidade humana depende do Código Penal ou dos pais.

O CDS é assim um último bastião para aqueles que acreditam que a pessoa deve estar no centro de toda a acção política. Para aqueles que acreditam numa sociedade civil forte, apoiada por um Estado solidário. O bastião dos que acreditam que toda a vida é digna, desde a concepção à morte natural, incluindo todas as fases entre estes dois acontecimentos. O bastião dos que amam Portugal, a sua história e a sua cultura e que por isso sabem que a nossa vocação não é estar fechados ao mundo. O bastião dos que acreditam nas liberdades individuais, mas sabem que o Estado é necessário para garantir que todos possam exercer essas liberdades. O bastião contra toda a tirania, do Estado ou do mercado, dos sindicatos ou dos patrões, à direita e à esquerda.

Sim hoje somos poucos e estamos frágeis. Gastámos demasiado tempo e energia numa guerra civil inútil. Mas o CDS é hoje mais necessário do que nunca. Por isso, é hora de enterrar machados de guerra, de colocar os conflitos em pausa, e por muito que doa, lutar por um bom resultado no dia 30 de Janeiro. Não se trata de defender uma direcção ou de tentar salvar um partido. Trata-se simplesmente de garantir que no dia 31 de Janeiro ainda haverá na Assembleia da República um grupo parlamentar que defenda a dignidade humana do princípio ao fim.