É compreensível o espanto, é o mesmo de há dois mil anos. O espanto da cruz que é loucura para os gentios. É que o Papa Francisco não é apenas um líder mundial, nem sobretudo isso. O Papa é o sucessor de Pedro, daquele primeiro Pedro que regressou a Roma para ser morto junto do seu rebanho.
Este homem de 84 anos, que visitou um país devastado pela guerra, é Sumo Pontifice, Principe dos Apóstolos, bispo de Roma, Patriarca do Ocidente, mas sobretudo é Vigário de Cristo e Servo dos Servos de Deus. Francisco é servo das freiras que na Birmânia se colocam à frente do exército, dos sacerdotes que recebem nas suas Igrejas os dissidentes venezuelanos, dos missionários perseguidos por toda a África e próximo Oriente, das freiras e sacerdotes de Aleppo, dos religiosos que morreram em Itália infectados pela Covid-19 por continuarem a cuidar dos mais pobres, é servo de todos os cristãos que por todo o mundo são perseguidos por amarem a Deus.
E é por isso que o Papa foi ao Iraque. Porque o seu ministério não é o poder, mas o serviço, o serviço a Cristo, como servo do Povo de Deus. O Santo Padre celebra entre as pedras de Igrejas destruídas, porque celebra para as pedras vivas do Templo de Deus, que é o seu povo. Porque Ele é a pedra sobre a qual Cristo ergue a sua Igreja.
Francisco não é um líder de facção, nem um actor do xadrez geopolítico, é o Doce Cristo na Terra. E assim foi ao encontro do povo mártir do Iraque. Daqueles cristãos que sofreram os horrores da guerra e da perseguição. Foi ao encontro dos mais pobres e mais esquecidos, porque Deus não os esquece.
É de facto espantoso ver um homem tão livre como o Papa. Livre porque totalmente preso aquela resposta de Pedro há dois mil anos: “Senhor, tu bem sabes que te amo”. Não estamos de facto habituados a ver esta liberdade.
Aquilo que o Papa fez nenhum líder mundial, por muito poderoso que seja, podia fazer. Porque esses líderes só têm exércitos, drones, tecnologia. O Papa tem um mandato divino: “Então apascenta o meu rebanho”. Os poderosos só têm a chave deste mundo, mas o Papa tem as chaves do próximo.
Foi de facto comovente ver a visita do Papa ao Iraque. Sobretudo neste tempo, como diz José Manuel Fernandes, de cobardia. Mas é bom não ficarmos pelo espanto diante desta coragem, como se fosse apenas um acto de um grande líder que quer dar um exemplo. A visita do Papa ao Iraque é muito mais do que isso, é um testemunho daquilo que os Cristãos são chamados a ser: presença de Cristo no mundo.