Li nestas semanas em grandes parangonas que o Bloco e o Livre têm nas
suas listas ao parlamento mulheres afrodescendentes. Ao olhar para
estas notícias não consegui deixar de pensar na diferença entre a
extrema-esquerda e a direita, sobretudo o CDS.
Para a extrema-esquerda Beatriz Dias e Joacine Moreira são vistas
apenas como membros de uma minoria, como números de uma quota que é
preciso preencher. Aparentemente o que interessa não são as suas
qualidades, os seus méritos, as suas capacidades, mas apenas a cor da
sua pele e o seu sexo.
E aqui está a grande diferença
entre eles e o CDS: para o CDS o que interessa não é a etnia ou o sexo,
mas a pessoa em si mesma. Por isso não há notícia “CDS apresenta
afrodescendente como cabeça de lista em Viseu”. Para o CDS, o presidente
da distrital de Viseu, deputado há mais de uma década e cabeça de lista
às eleições deste ano não é “um afrodescendente”, é o Hélder Amaral,
que não deve o seu lugar à cor da pele, ou à necessidade de preencher
uma quota, mas às suas capacidades e qualidades.
Aliás, tal como
não há notícia de “mulher cabeça de lista”, porque Assunção Cristas,
Cecília Meireles, Raquel Abecassis, Patrícia Fonseca, Inês Palma
Teixeira e Melissa da Silva (para além de Ana Rita Bessa, Isabel Galriça
Neto e Isabel Menéres Campos, que não são cabeças de lista, mas
entraram na quota nacional), não estão lá pelo seu sexo, mas pelo seu
mérito. É verdade que são mulheres, mas não são apenas isso, são
sobretudo pessoas com currículo profissional e político, muitas com
provas dadas no Parlamento. E é por isso que são candidatas, não para
satisfazer a obsessão igualitária moderna.
A esquerda olha para a
sociedade e divide-a em classes. Operários vs patrões, povo vs
burguesia, mulheres vs homens, brancos vs minorias, heterossexuais vs
LGBTI, e por aí fora, num conjunto de classes e de conflitos que parece
não ter fim. Por isso para a esquerda não interessa a pessoa, mas a sua
“classe”. Por isso Beatriz e Joacine são apenas “mulheres
afrodescendentes”.
Isto faz com que a esquerda acabe a partilhar a
mentalidade dos movimentos racistas. A diferença é que os racistas
dividem o mundo em brancos e pretos e a esquerda entre brancos e
afrodescendentes. Mas quer para uns quer para outros a cor da pele
define o que a pessoa é.
Para a direita democrática a pessoa está
no centro da política, não a sua classe, a sua etnia, ou o seu sexo. Por
isso a preocupação da direita não é a falsa igualdade da esquerda, que
prefere os pobres mais pobres desde que os ricos também o fiquem, mas
sim criar condições para que todos tenham não apenas uma vida digna, mas
iguais condições para poder construir a sua vida.
As quotas
raciais com que a esquerda sonha não vão resolver qualquer problema. Não
resolvem o problema das centenas de milhares de negros que habitam
bairros sociais à volta das grandes cidades, onde abunda a
criminalidade, com escolas degradadas, com empregos mal pagos, com
horários de trabalho desumanos. Nem dos negros, nem dos brancos, nem dos
ciganos que lá moram. E achar que resolve é mais uma vez a manifestação
desta mentalidade racista da esquerda, que pensa que um negro
representa todos os outros, como se não estivéssemos a falar de pessoas
com histórias, culturas e circunstâncias diferentes. Como se um
cabo-verdiano católico, um guineense muçulmano, ou um português cujo os
avós vieram de Moçambique fossem uma só entidade representada por
qualquer pessoa que partilhe com eles a tonalidade.
Olhando para o
parlamento é evidente, comparado com a sociedade, que há lá poucos
negros. Como também se verá que há pouca gente do interior ou que há
pouca gente vinda de bairros pobres. Mas isto é verdade para o
parlamento, como é para as grandes empresas, como é para as carreiras
universitárias, como é para as carreiras da magistratura A verdade é que
os mais pobres em Portugal estão destinados a trabalhar nas obras ou,
numa versão mais moderna, em grandes cadeias comerciais.
Portugal
tem de facto um problema social grave: a incapacidade de tirar os pobres
da pobreza. Mas isso não se resolve com quotas, nem com medidas
artificias, mas com uma verdadeira política de educação centrada nos
alunos e não na lenga-lenga da Escola Pública. O Bloco e o Livre querem
mais negros no Parlamento? É simples: larguem o estatismo, larguem a sua
visão estratificada da sociedade e comecem a trabalhar para criar
escolas que estejam realmente ao serviço das comunidades e não ao
serviço do Estado. Até lá, por muitas quotas que inventem, por muito
afrodescendentes que coloquem nas suas listas, tudo continuará na mesma.