Não é possível passar os olhos pela Internet nos últimos dias
sem deparar com uma quantidade enorme de “informações” e “opiniões” sobre os
refugiados e migrantes que se amontoam às portas da Europa. A maior parte das
vezes deparamo-nos com fotografias, vídeos, frases soltas que tentam provar ou
que aqueles que agora tentam entrar no nosso continente são terroristas ou
então que qualquer pessoa que seja contra a sua entrada na Europa é um fascista
empedernido, pouco mais que um discípulo de Hitler.
O problema é que a questão dos refugiados e migrantes é um assunto complexo que não cabe num comentário do Facebook, num post de um blog, num pequeno vídeo no Youtube, nos 140 caracteres do Twiter,
nem em qualquer outro formato de qualquer outra rede social. Ser capaz de pesquisar
no Google não transforma ninguém em especialista de assunto nenhum e
descarregar uma aplicação que transmite notícias ao minuto não nos torna mais
informados.
A nossa geração, a geração da Internet no telefone e das notícias
instantâneas, tornou-se incapaz de ajuizar qualquer facto. A nossa sociedade
vive de causas e histerias que duram dias ou, com sorte, semanas. Neste momento
são os refugiados. Há pouco tempo era o leão Cecil, antes a destruição de
Palmira, o Charlie Hebdo, e por ai fora. Quantos é que hoje ainda se lembra de
Koni, que há três era o maior criminoso de guerra do mundo?
Ora, o drama humanitário a que todos nós assistimos, de
centenas milhares a tentar entrar na Europa, não tem uma solução fácil. Não se
trata simplesmente de ser a favor ou contra os refugiados e os migrantes. Ou de
simplesmente deixar entrar ou repatriar.
De facto, a maior parte dos argumentos que ambos os lados
defendem são verdade. É verdade que a grande maioria daquelas pessoas não tem
nada, é verdade que muitos fogem da guerra, é verdade que a maior parte são
inocentes, é verdade que muitos só querem paz e sossego. Também é verdade que
no meio daquelas multidões haverá extremistas, é verdade que há a possibilidade
de existirem terroristas “plantados” entre os refugiados, é verdade que a
Europa não tem capacidade para simplesmente acolher toda aquela gente, é
verdade que muitos desprezam o Ocidente e os valores europeus e é verdade que
podem vir a constituir um perigo para a Europa.
Dito isto, sabendo que existe um longo trabalho pela frente,
sobra a questão: o que fazemos diante dos que nada têm e nos batem à porta?
A minha pergunta não é como é que os acolhemos, nem como é
que os vamos sustentar, ou como é que garantimos que eles não nos façam mal, ou
como é que resolvemos o problema para eles não terem de fugir. Essas são as
questões que teremos que tratar depois.
A questão é muito concreta: estão pessoas a morrer para
chegar à Europa, estão pessoas desesperadas, sem terem nada a bater à porta. O
que vamos fazer?
A Europa foi fundada pelo Cristianismo. Os valores do
Ocidente nascem da ideia cristã de que todo o homem é criado à imagem e
semelhança de Deus. Erguer um muro e deixar os refugiados e os migrantes
entregues à sua sorte não é defender os valores europeus, é negar os valores
europeus. Fechar a porta na cara a quem nos procura não é defender o ideal
cristão é nega-lo. Não é possível defender o cristianismo, a cultura cristã,
através da sua negação.
Depois de acolher-mos estas pessoas podemos fazer várias
coisas: criar campos de refugiados, repatriar os emigrantes que não cumpram os
requisitos para entrar na Europa, acabar com a guerra na Síria e no Iraque para
que os refugiados possam voltar, prender os terroristas infiltrados, vigiar os
suspeitos de extremismo.
Aquilo que não podemos fazer, ou que não podemos fazer sem
negar a identidade europeia, é deixar aquelas multidões entregues à fome, à
pobreza, aos traficantes de pessoas. Entregues à morte.
Não sei como resolver o problema dos refugiados e dos
migrantes. Não sei como manter a Europa a salvo de potenciais actos de
terrorismo ou de uma invasão moura. Só sei o que Cristo disse há dois mil anos
e que a Igreja continua hoje a repetir:
«O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de
meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do
mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber,
era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e
visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que
te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando
te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente
ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em
verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus
anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de
beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente
e na prisão e não fostes visitar-me.’ Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando
foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na
prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo:
Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o
deixastes de fazer.’»
É verdade que esta migração pode trazer o fim da Europa. Se
acolhermos todos os que hoje procuram entrar no nosso continente o fim poderá
eventualmente acontecer pela violência. Mas se lhes negarmos a entrada, deixando-os
entregues a si mesmo, a Europa acaba seguramente. Não por mãos alheias, mas
pelas suas próprias.