A
notícia de uma rapariga de 12 anos que, após anos de abusos e violações pelo
seu padrasto, se encontrava grávida de cinco meses, encheu o país de dor e
revolta. Todo o drama nos parece incompreensível e inaceitável.
Como
é possível um adulto fazer tal barbaridade a uma criança? Mais ainda um adulto
que tinha responsabilidades sobre a criança. Como é possível que a mãe não
tenho feito nada? Como pode não ter reparado que a sua filha estava grávida?
Como é possível que na escola só tenham reparado quando a gravidez já ia nos
cinco meses? E os serviços sociais, que já tinham tirado a criança à família
uma vez, como é que não fizeram nada antes? Os mesmo serviços sociais que são
tão velozes a tirar crianças as mães só porque estas são pobres, como não
repararam numa criança que já tinha estado ao seu cuidado e que foi violada
durantes anos? E por fim, como é possível que um horror destes aconteça numa
sociedade civilizada? Como é que a nossa sociedade é incapaz de defender as
suas crianças?
E
para estas perguntas não há nenhuma resposta que nos satisfaça. Nada pode
justificar a destruição da infância de uma criança sem que ninguém tenha feito
nada para a defender. Eu não sou capaz sequer de começar a imaginar o
sofrimento desta criança de doze anos, que viu a sua vida desfeita pela
violência e pela negligência dos adultos. Como poderá ela voltar a confiar em
alguém, se todos aqueles que a deviam defender a atacaram e ignoraram?
Porém,
o mal não se cura com o mal. O mal só pode ser curado pelo bem. Aquilo que a
violência e a negligência destruíram não poderá ser reconstruído através de
mais violência.
Tenho
visto muitos comentários que defendem que a criança deve abortar, que é o
melhor para ela. Eu contudo não percebo como é que a destruição de outra vida
inocente pode ser uma ajuda para esta criança.
Sobretudo
quando se sabe que fazer um aborto nesta altura é tão ou mais perigoso que o
parto. Aos cinco meses já existe uma alta probabilidade de a criança sobreviver
fora da barriga da mãe. A diferença entre uma criança de 5 meses, uma de 9 e um
recém-nascido é peso e tamanho.
Por
isso se o parto eventualmente pode representar um perigo, a verdade é que o
aborto ainda mais, uma vez que inclui matar a criança e depois tirá-la de
dentro da mãe.
Mas
o que mais custa compreender é como é que é possível defender, com tanta
naturalidade, a morte de uma criança inocente. Neste caso só há dois inocentes,
a pobre criança que foi violada e a criança que se encontra dentro dela.
Como
é que num país onde a Constituição afirma que a vida é inviolável é possível
defender a morte de um inocente de cinco meses. Se no princípio da gestação
ainda pode existir alguma confusão, dado que o bebé ainda não tem tudo que
necessita para viver autonomamente, aos cinco meses ninguém tem dúvida de que
se trata de uma vida humana.
De
facto, existem crianças que nasceram aos cinco meses de gravidez. E que
cresceram normalmente. A criança que está por nascer neste caso já tem cabeça,
olhos, pés, mãos, pulmões, coração. Já ouve, já sente calor, frio, incomodo. Já
sente dor!
Como
é que a morte dessa criança pode trazer um bem para esta história tenebrosa?
Como pode servir para curar a sua mãe-criança? Como é que morte de um inocente
pode trazer justiça? Como é que num país onde não há pena de morte, o único que
pode ser condenado a esse fim é o inocente?
Compreendo
a dor e a revolta que este caso provoca. Mas continuo a afirmar que a única
coisa capaz de curar o mal é o bem. Tentar curar a injustiça e a dor de que foi
alvo esta criança de doze anos, com uma nova injustiça, com um novo mal, nunca
poderá melhorar a situação. Se de facto a criança acabar por abortar, a sua dor e o seu trauma não irão encontrar consolo algum. O único resultado será que este horrendo drama irá produzir mais uma vítima.
P.S.: A imagem corresponde a um bebé às 22 semanas de gestação, o que equivale ao quinto mês.. A imagem foi retirado do site net-bebes.com.