quarta-feira, 29 de abril de 2015

Diante do Mal, Só o Bem Pode Salvar.





A notícia de uma rapariga de 12 anos que, após anos de abusos e violações pelo seu padrasto, se encontrava grávida de cinco meses, encheu o país de dor e revolta. Todo o drama nos parece incompreensível e inaceitável. 

Como é possível um adulto fazer tal barbaridade a uma criança? Mais ainda um adulto que tinha responsabilidades sobre a criança. Como é possível que a mãe não tenho feito nada? Como pode não ter reparado que a sua filha estava grávida? Como é possível que na escola só tenham reparado quando a gravidez já ia nos cinco meses? E os serviços sociais, que já tinham tirado a criança à família uma vez, como é que não fizeram nada antes? Os mesmo serviços sociais que são tão velozes a tirar crianças as mães só porque estas são pobres, como não repararam numa criança que já tinha estado ao seu cuidado e que foi violada durantes anos? E por fim, como é possível que um horror destes aconteça numa sociedade civilizada? Como é que a nossa sociedade é incapaz de defender as suas crianças?

E para estas perguntas não há nenhuma resposta que nos satisfaça. Nada pode justificar a destruição da infância de uma criança sem que ninguém tenha feito nada para a defender. Eu não sou capaz sequer de começar a imaginar o sofrimento desta criança de doze anos, que viu a sua vida desfeita pela violência e pela negligência dos adultos. Como poderá ela voltar a confiar em alguém, se todos aqueles que a deviam defender a atacaram e ignoraram?

Porém, o mal não se cura com o mal. O mal só pode ser curado pelo bem. Aquilo que a violência e a negligência destruíram não poderá ser reconstruído através de mais violência.
Tenho visto muitos comentários que defendem que a criança deve abortar, que é o melhor para ela. Eu contudo não percebo como é que a destruição de outra vida inocente pode ser uma ajuda para esta criança.

Sobretudo quando se sabe que fazer um aborto nesta altura é tão ou mais perigoso que o parto. Aos cinco meses já existe uma alta probabilidade de a criança sobreviver fora da barriga da mãe. A diferença entre uma criança de 5 meses, uma de 9 e um recém-nascido é peso e tamanho.

Por isso se o parto eventualmente pode representar um perigo, a verdade é que o aborto ainda mais, uma vez que inclui matar a criança e depois tirá-la de dentro da mãe.

Mas o que mais custa compreender é como é que é possível defender, com tanta naturalidade, a morte de uma criança inocente. Neste caso só há dois inocentes, a pobre criança que foi violada e a criança que se encontra dentro dela.

Como é que num país onde a Constituição afirma que a vida é inviolável é possível defender a morte de um inocente de cinco meses. Se no princípio da gestação ainda pode existir alguma confusão, dado que o bebé ainda não tem tudo que necessita para viver autonomamente, aos cinco meses ninguém tem dúvida de que se trata de uma vida humana.
De facto, existem crianças que nasceram aos cinco meses de gravidez. E que cresceram normalmente. A criança que está por nascer neste caso já tem cabeça, olhos, pés, mãos, pulmões, coração. Já ouve, já sente calor, frio, incomodo. Já sente dor!

Como é que a morte dessa criança pode trazer um bem para esta história tenebrosa? Como pode servir para curar a sua mãe-criança? Como é que morte de um inocente pode trazer justiça? Como é que num país onde não há pena de morte, o único que pode ser condenado a esse fim é o inocente?

Compreendo a dor e a revolta que este caso provoca. Mas continuo a afirmar que a única coisa capaz de curar o mal é o bem. Tentar curar a injustiça e a dor de que foi alvo esta criança de doze anos, com uma nova injustiça, com um novo mal, nunca poderá melhorar a situação. Se de facto a criança acabar por abortar, a sua dor e o seu trauma não irão encontrar consolo algum. O único resultado será que este horrendo drama irá produzir mais uma vítima.

P.S.: A imagem corresponde a um bebé às 22 semanas de gestação, o que equivale ao quinto mês.. A imagem foi retirado do site net-bebes.com.

terça-feira, 28 de abril de 2015

41 Anos Depois: Já Podemos Seguir Em Frente?




Completaram-se este Sábado 41 anos sobre a revolução do 25 de Abril. Seria de esperar que, passado tanto tempo, já fosse possível falar sobre o assunto com algum distanciamento e frieza. Infelizmente a retórica exacerbada parece continuar a levar a melhor sobre os factos, cavando duas trincheiras ideológica que condicionam o debate político em Portugal. 

De um lado temos aqueles que retratam o Estado Novo como uma brutal ditadura fascista e pintam o 25 de Abril como o supremo momento de liberdade, onde todos se tornaram livres e felizes excepto os fascistas. Esta é a posição habitual da esquerda, que se considera possuidora do monopólio da moral democrática e que pensa, mesmo quando não o diz, que a direita não devia ter direito a celebrar o 25 de Abril.

Do outro lado temos aqueles que consideram que o Estado Novo era constituído apenas por pessoas rectas e moralmente superiores e que a censura e a polícia política apenas corrigiam alguns abusos, o que era um pequeno preço a pagar pela estabilidade.

Para alguém nascido em plena democracia, como é o meu caso, ambas as posições são bastante difíceis de compreender.

É verdade que o 25 de Abril pôs fim a uma ditadura e abriu caminho para a democracia que eu sempre conheci. Mas também é verdade que o processo para lá chega foi muito acidentado. A tentativa da esquerda de “tomar” a Revolução como criatura sua levou a acontecimentos inaceitáveis numa sociedade livre. Houve prisões políticas, saneamentos, nacionalizações injustificadas. Para além disso temos uma Constituição que diz que caminhamos para o socialismo e que teve que ser aprovada pelos militares.

Contudo, nenhum destes factos justifica o Estado Novo. O facto de ter havido abusos nos anos que se seguiram ao 25 de Abril não justifica um estado ditatorial. Tal como nem a honestidade, nem a estabilidade ou sequer a competência justifica que se retire a liberdade às pessoas.

Um Estado que substitua a dignidade de cada ser humana, com todos os seus direitos, pelo bem da Sociedade é um Estado injusto e que deve ser derrubado. Por isso não vale a pena argumentar que a censura portuguesa não se compara à censura comunista, ou de que o Marcelo Caetano não era violento como Estaline. Ser menos ditador do que Hitler ou Fidel Castro não torna ninguém num governante exemplar.

Enquanto não conseguirmos olhar e avaliar quer o Estado Novo quer o 25 de Abril sem palas ideológicas, enquanto fingirmos não reparar nos defeitos de um ou de outro, enquanto continuarmos a sobrevalorizar as qualidades de um ou de outro, não conseguiremos ultrapassar as trincheiras ideológicas.

E isso é um problema, porque esta forma de olhar par história recente portuguesa continua a condicionar a política portuguesa. Em Portugal para se ser democrático uma pessoa no máximo pode ser do centro político. Se não usar o palavreado socialista, garantido sempre o Estado Social e os direitos adquiridos, está-se automaticamente carimbado como “salazarista” ou “fascista”.

Alguém que defende por exemplo a Liberdade de Educação ou um Serviço Nacional de Saúde mais racional não tem qualquer hipótese na política portuguesa. Rapidamente será acusado de trair Abril, ou de querer voltar ao tempo da "outra senhora". O que é estranho se pensarmos que qualquer uma destas propostas teria sido rejeitada pelo Estado Novo por ser demasiado liberal.

Por outro lado, boa parte da Direita despreza a política actual, onde os partidos e o poder são mais importantes que o bem nacional e a maior parte dos governantes são pouco mais do que representantes de grupos de interesse. Por isso ficam na nostalgia, de um tempo antigo (que de facto nunca existiu a não ser na sua imaginação), onde todos os políticos procuravam apenas o bem comum e eram honesto e recusam-se a descer à “chiqueira” partidária.

O resultado é a ausência de um verdadeiro debate político. Hoje os grandes assuntos que distinguem os partidos é serem a favor ou contra a austeridade, a favor ou contra o despesismo. 

Enquanto a esquerda estiver presa na sua moral democrática superior, como herdeira dos capitães de Abril (mas esquecendo-se do COPCON e das prisões sem mandato) e a direita refém da sua altivez de quem está acima da chicana política (esquecendo-se provavelmente como foi feita a sucessão ao Dr. Salazar) a política nacional continuara a ser feita de palavras de ordem e demagogia, sem deixar espaço ao verdadeiro debates de ideias e de políticas.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ideologia de Género: Vitória a Qualquer Preço.




Em Dezembro do ano passado, suicidou-se um jovem transgénero de 17 anos. O seu nome era Josh Alcorn, mas queria ser chamado por Leelah. A notícia foi amplamente noticiada, sobretudo pelo facto de os pais de Josh o terem levado a fazer terapia conversiva.

A Organização Mundial de Saúde tem recomendações muito específicas sobre como se deve noticiar estes acontecimentos, pois está estudado que as notícias sobre suicídios podem levar a mais suicídios.
Entre as recomendações da OMS estão, por exemplo, que se deve apenas relatar factos relevantes, e mesmo estes nas páginas internas de veículos impressos; não publicar fotografias ou cartas do falecido; não fazer sensacionalismo sobre o caso; não atribuir culpas.

De todas estas indicações os media fizeram tábua rasa. No desejo de atacar as terapias que visam o tratamento deste transtorno, os jornalistas fizeram uma ampla cobertura do caso, puseram as noticias nas principais páginas das versões online, mostraram fotografias e vídeos em abundância, fizeram um enorme barulho sobre a opressão do jovem por ter que fazer terapia e atribuíram todas as culpas aos que defendem que é possível os transexuais fazerem terapia para reverter a sua condição.

O facto é que até ao dia 9 de Abril já outros seis jovens transexuais se tinham suicidado. Não afirmo que há uma relação directa entre a publicidade ao caso Alcorn e estes actos. Mas a verdade é que os media insistem que existe uma onda de suicídios de jovens transexuais, depois de terem glorificado o caso de um pobre jovem que se suicidou, apenas para afirmar a sua agenda. Parecem contudo ser incapazes de pensar se o seu comportamento não terá tido alguma influência nesta onde de suicídios.

Contudo, o mais grave aconteceu no dia 11 de Abril, quando a Casa Branca apelou ao fim das terapias conversivas e citou o exemplo de Alcorn. Este facto foi publicitado em jornais de todo o mundo e a tragédia do jovem Alcorn foi dada como exemplo de um acontecimento que pode mudar a política.

A verdade é que dois dias mais tarde, outro jovem transgénero de 16 anos se suicidou. Também este caso mereceu amplo destaque da imprensa, com os mesmos atropelos às recomendações da OMS que tinham sido feitos no caso de Josh Alcorn. Desta vez, na ausência de qualquer terapia conversiva, o alvo da fúria dos jornalistas foi o bullying de que o jovem era alvo.

Ou seja, dois dias após o executivo de Obama ter vergonhosamente usado o drama de um adolescente de 17 anos para fins políticos, outro jovem segue o mesmo caminho. E em vez de alguém se interrogar se não terá sido irresponsável da parte de Obama glorificar uma tragédia para fins políticos, voltam a repetir-se os mesmos erros.

Bem sei que não é possível afirmar uma relação directa entre estas oitos mortes dramáticas e o uso irresponsável que os políticos e jornalistas favoráveis à ideologia de género fazem dele. Mas é possível afirmar que publicitar e glorificar (morreu por uma causa) o suicídio de jovens adolescentes para afirmar uma agenda política é perigoso, irresponsável e, sobretudo, totalmente desprezível.

A ideia de que o género de uma pessoa pode ser diferente do seu sexo, ou seja, de que uma pessoa pode ser uma “mulher” presa num corpo masculino é de uma violência tremenda. Implica uma pessoa dissociar-se do seu próprio corpo, afirmar-se a si mesmo como um erro, violentar-se a si mesmo para afirmar o primado da sua ideia sobre a realidade. 

Ora, isto não acontece sem consequências. O problema não é o bullying (embora este seja sempre um acto vergonhoso que não tem nenhuma desculpa), nem as terapias conversivas. Mas sim a violência a que o transexual se obriga para se negar a si mesmo. Por isso o transexual precisa obviamente de apoio, o que é muito diferente de incentivo.

Um adolescente que vive este drama, a última coisa que precisa é que lhe dêem exemplos de pessoas que não aguentaram viver assim e decidiram tirar a sua própria vida. Isto devia ser evidente para todos. Infelizmente, aqueles que se dizem defender os direitos dos transexuais não se importam nada com os métodos que usam na sua guerra, nem com as baixas que causam.