No dia 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a República. O golpe de estado que haveria de levar à sua implementação começou na madrugada de 3 para 4 de Outubro.
Logo no dia 3, no seguimento da morte de Miguel Bombarda atribuída aos jesuítas (quando de facto fora morto por um paciente), começou a perseguição popular ao clero. No dia 4 foram mortos dois padres lazaristas. No dia 5 o Patriarca foi preso por populares e levado à presença de Afonso Costa. Nesse mesmo dia o bispo de Beja teve que fugir do país para salvar a vida.
No dia 8 de Outubro o governo mandou parar com as perseguições populares. Para evitar abusos são dadas ordens à polícia para prender todos os padres que andem na rua com trajes talares. Começou então a perseguição legislativa.
Dos vários documentos legais que dizem respeito à Igreja há um que alterou profundamente a cultura portuguesa e que hoje passa despercebido: a abolição dos feriados religiosos.
No dia 12 de Outubro de 1910 foram abolidos todos os feriados religiosos. Só o dia de Natal sobreviveu, mas agora apelidado de Dia da Família Portuguesa.
Contudo, para não aborrecer o povo, o governo provisório não se limitou a abolir os feriados. Criou novos feriados e novas festas para fazer esquecer as festas religiosas.
Regra geral estas novas festas incluíam grandes paradas e desfiles, tentando recriar as festas populares dos santos.
Assim foi criado o feriado do 1º de Dezembro, para fazer esquecer a Imaculada Conceição. O dia do nascimento de Nossa Senhora, 8 de Setembro, passou a ser o dia da mãe. O de São José dia do pai. Para substituir a festa da Anunciação (25 de Março) o dia da Árvore.
É neste contexto que nasce o dia de Camões. Como se tinha abolido a festa de Santo António criou-se o dia de Camões. O 10 Junho era um festa republicana desde o ano do do centenário do poeta. Passou então a ser festa nacional, com direito a desfile cívico e discurso das autoridades. O povo nunca aderiu a estas novas festividades e gozava com os desfiles dizendo que era a procissão do São Camões.
Percebo que com tempo esta questão perdeu importância. No Estado Novo o 10 de Junho ganhou relevância, já não como dia de Camões, mas como uma oportunidade para festividades patrióticas. Hoje este feriado já não tem uma carga anti-clerical e caiu no esquecimento dos republicanos, sendo festejado sobretudo por velhos nacionalistas.
Mesmo assim não festejo o 10 de Junho. Não chateio, não tomo posições morais, não faço causas no facebook. É feriado e eu aproveito. Contudo não adiro a festas maçonicas. Festejar por festejar espero pelo Santo António.